📅 28 abr 2025

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Justiça russa avalia ‘Afotid’, remédio que promete curar o câncer em qualquer estágio

Imagem ilustrativa/internet

O Tribunal de Justiça da Rússia divulgou em 17 de abril de 2025 um comunicado informando que está avaliando uma série de estudos e documentos sobre uma empresa russa que afirma ter criado um medicamento único, capaz de tratar o câncer independentemente do estágio da doença. Segundo a agência estatal RIA Novosti, o composto, batizado de “Afotid”, já está sendo utilizado no tratamento de voluntários e teve sua segurança supostamente comprovada por estudos apresentados ao tribunal. No entanto, ainda não há qualquer menção a esse fármaco em publicações acadêmicas ou científicas reconhecidas internacionalmente. 

Contexto do projeto e contrapartidas financeiras

O desenvolvimento do “Afotid” integra um contrato entre o Ministério da Indústria e Comércio da Rússia (Minpromtorg) e a empresa Lina M, sediada em Korolev, Moscou. Esse projeto, inicialmente orçado em 150 milhões de rublos (R$ 8,5 milhões), sofreu sucessivos cortes de verba ao longo dos anos, comprometendo prazos e entregas. Em 2014, o próprio Minpromtorg solicitou a rescisão contratual e exigiu a devolução de 117 milhões de rublos (≈ R$ 6,6 milhões) relativos a adiantamentos não justificados, além de outros 80 milhões de rublos (≈ R$ 4,5 milhões) em juros por uso indevido de recursos públicos.

Em novembro daquele ano, o Tribunal Arbitral de Moscou rescindiu o contrato, determinando a restituição dos 117 milhões de rublos, mas sem aplicação de juros. Ambas as partes recorreram, e a instância de apelação reduziu o montante a ser devolvido para apenas 14 milhões de rublos (≈ R$ 790 mil) ao reconhecer razões de atraso apresentadas pela Lina M.

Desafios e atrasos nos testes clínicos

A Lina M alega que o registro para iniciar os testes clínicos foi concedido com um ano de atraso, o que postergou o cronograma original do projeto. Posteriormente, os ensaios foram suspensos por falta de voluntários, em razão da proibição de recrutamento imposta durante a pandemia de COVID‑19. Além disso, as sanções internacionais decorrentes do conflito com a Ucrânia obrigaram a empresa a desenvolver equipamentos nacionais, como um homogeneizador de partículas poliméricas de alta pressão, atrasando ainda mais a pesquisa.

Perspectivas e ceticismo

Embora o tribunal tenha reconhecido a “relevância social” do medicamento e reconsiderado o valor a ser devolvido, especialistas em oncologia e autoridades regulatórias ainda aguardam a publicação de dados robustos em revistas científicas revisadas por pares para atestar eficácia e segurança. Até o momento, não há evidências independentes que validem as alegações da Lina M.


Destaque para o leitor

  • Medicamento: Afotid

  • Autores do projeto: Minpromtorg + Lina M (Korolev, Moscou)

  • Valor original do contrato: 150 milhões de rublos

  • Devolução em apelação: reduzida a 14 milhões de rublos

  • Testes clínicos: atrasados por registro tardio e falta de voluntários (pandemia)

  • Status atual: Tribunal avalia estudos; falta validação científica reconhecida


Por, Clóvis Kallycoffen 

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